Disc 1 | ||||||
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1. |
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(Chico Buarque, 1977)
Mulher Voce vai gostar To levando uns amigos pra conversar Eles vao com uma fome que nem me contem Eles vao com uma sede de anteontem Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhao E vamos botar agua no feijao Mulher Nao va se afobar Nao tem que por a mesa, nem da lugar Ponha os pratos no chao, e o chao ta posto E prepare as linguicas pro tiragosto Uca, acucar, cumbuca de gelo, limao E vamos botar agua no feijao Mulher Voce vai fritar Um montao de torresmo pra acompanhar Arroz branco, farofa e a malagueta A laranja-bahia ou da seleta Joga o paio, carne seca, toucinho no caldeirao E vamos botar agua no feijao Mulher Depois de salgar Faca um bom refogado, que e pra engrossar Aproveite a gordura da frigideira Pra melhor temperar a couve mineira Diz que ta dura, pendura a fatura no nosso irmao E vamos botar agua no feijao Andre Velloso - Rio de Janeiro, Brazil |
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2. |
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Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora Sonhei que tinha gente la fora Batendo no portao, que aflicao Era a dura, numa muito escura viatura Minha nossa santa criatura Chame, chame, chame la Chame, chame o ladrao, chame o ladrao Acorda amor Nao e mais pesadelo nada Tem gente ja no vao de escada Fazendo confusao, que aflicao Sao os homens E eu aqui parado de pijama Eu nao gosto de passar vexame Chame, chame, chame Chame o ladrao, chame o ladrao Se eu demorar uns meses Convem, as vezes, voce sofrer Mas depois de um ano eu nao vindo Ponha a roupa de domingo E pode me esquecer Acorda amor Que o bicho e brabo e nao sossega Se voce corre o bicho pega Se fica nao sei nao Atencao Nao demora Dia desses chega a sua hora Nao discuta a toa nao reclame Clame, chame la, chame, chame Chame o ladrao, chame o ladrao, chame o ladrao (Nao esqueca a escova, o sabonete e o violao) |
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3. |
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Vai meu irmao
Pega esse aviao Voce tem razao De correr assim Desse frio Mas beija O meu Rio de Janeiro Antes que um aventureiro Lance mao Pede perdao Pela duracao Dessa temporada Mas nao diga nada Que me viu chorando E pros da pesada Diz que eu vou levando Ve como e que anda Aquela vida a toa E se puder me manda Uma noticia boa |
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4. |
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Quando, seu moco, nasceu meu rebento
Nao era o momento dele rebentar Ja foi nascendo com cara de fome E eu nao tinha nem nome pra lhe dar Como fui levando, nao sei lhe explicar Fui assim levando ele a me levar E na sua meninice ele um dia me disse Que chegava la Olha ai Olha ai Olha ai, ai o meu guri, olha ai Olha ai, e o meu guri E ele chega Chega suado e veloz do batente E traz sempre um presente pra me encabular Tanta corrente de ouro, seu moco Que haja pescoco pra enfiar Me trouxe uma bolsa ja com tudo dentro Chave, caderneta, terco e patua Um lenco e uma penca de documentos Pra finalmente eu me identificar, olha ai Olha ai, ai o meu guri, olha ai Olha ai, e o meu guri E ele chega Chega no morro com o carregamento Pulseira, cimento, relogio, pneu, gravador Rezo ate ele chegar ca no alto Essa onda de assaltos ta um horror Eu consolo ele, ele me consola Boto ele no colo pra ele me ninar De repente acordo, olho pro lado E o danado ja foi trabalhar, olha ai Olha ai, ai o meu guri, olha ai Olha ai, e o meu guri E ele chega Chega estampado, manchete, retrato Com venda nos olhos, legenda e as iniciais Eu nao entendo essa gente, seu moco Fazendo alvoroco demais O guri no mato, acho que ta rindo Acho que ta lindo de papo pro ar Desde o comeco, eu nao disse, seu moco Ele disse que chegava la Olha ai, olha ai Olha ai, ai o meu guri, olha ai Olha ai, e o meu guri |
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5. |
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Tinha ca pra mim
Que agora sim Eu vivia enfim O grande amor Mentira Me atirei assim De trampolim Fui ate o fim um amador Passava um verao A agua e pao Dava o meu quinhao Pro grande amor Mentira Eu botava a mao No fogo entao Com meu coracao de fiador Hoje eu tenho apenas Uma pedra no meu peito Exijo respeito Nao sou mais um sonhador Chego a mudar de calcada Quando aparece uma flor E dou risada do grande amor Mentira Fui muito fiel Comprei anel Botei no papel O grande amor Mentira Reservei hotel Sarapatel E lua de mel Em Salvador Fui rezar na Se Pra Sao Jose Que eu levava fe No grande amor Mentira Fiz promessa ate Pra Oxumare De subir a pe o Redentor Hoje eu tenho apenas Uma pedra no meu peito Exijo respeito Nao sou mais um sonhador Chego a mudar de calcada Quando aparece uma flor E dou risada do grande amor Mentira |
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6. |
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Eu fui fazer um samba em homenagem
A nata da malandragem, que conheco de outros carnavais Eu fui a Lapa e perdi a viagem Que aquela tal malandragem nao existe mais Agora ja nao e normal, o que da de malandro Regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial Malandro candidato a malandro federal Malandro com retrato na coluna social Malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se da mal Mas o malandro para valer, nao espalha Aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal Dizem as mas linguas que ele ate trabalha Mora la longe chacoalha, no trem da central |
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7. |
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Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu nao lhe faco uma visita Mas como agora apareceu um portador Mando noticias nessa fita Aqui na terra 'tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta Muita mutreta pra levar a situacao Que a gente vai levando de teimoso e de pirraca E a gente vai tomando que, tambem, sem a cachaca Ninguem segura esse rojao Meu caro amigo eu nao pretendo provocar Nem aticar suas saudades Mas acontece que nao posso me furtar A lhe contar as novidades Aqui na terra tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta E pirueta pra cavar o ganha-pao Que a gente vai cavando so de birra, so de sarro E a gente vai fumando que, tambem, sem um cigarro Ninguem segura esse rojao Meu caro amigo eu quis ate telefonar Mas a tarifa nao tem graca Eu ando aflito pra fazer voce ficar A par de tudo que se passa Aqui na terra 'tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta Muita careta pra engolir a transacao E a gente ta engolindo cada sapo no caminho E a gente vai se amando que, tambem, sem um carinho Ninguem segura esse rojao Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever Mas o correio andou arisco Se permitem, vou tentar lhe remeter Noticias frescas nesse disco Aqui na terra 'tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta A Marieta manda um beijo para os seus Um beijo na familia, na Cecilia e nas criancas O Francis aproveita pra tambem mandar lembrancas A todo o pessoal Adeus |
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8. |
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Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode as seis horas da manha Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortela Todo dia ela diz que e pra eu me cuidar E essas coisas que diz toda mulher Diz que esta me esperando pro jantar E me beija com a boca de cafe Todo dia eu so penso em poder parar Meio-dia eu so penso em dizer nao Depois penso na vida pra levar E me calo com a boca de feijao Seis da tarde, como era de se esperar, Ela pega e me espera no portao Diz que esta muito louca pra beijar E me beija com a boca de paixao Toda noite ela diz pra eu nao me afastar Meia-noite ela jura eterno amor E me aperta pra eu quase sufocar E me morde com a boca de pavor Todo dia ela faz tudo sempre igual Me sacode as seis horas da manha Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortela |
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9. |
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Ando com minha cabeca ja pelas tabelas
Claro que ninguem se importa com minha aflicao Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela Eu achei que era ela puxando o cordao Oito horas e danco de blusa amarela Minha cabeca talvez faca as pazes assim Quando ouvi a cidade de noite batendo as panelas Eu pensei que era ela voltando pra mim Minha cabeca de noite batendo panelas Provavelmente nao deixa a cidade dormir Quando vi um bocado de gente Descendo as favelas Eu achei que era o povo que vinha pedir A cabeca de um homem que olhava as favelas Minha cabeca rolando no maracana Quando vi a galera aplaudindo de pe as tabelas Eu jurei que era ela que vinha chegando Com minha cabeca ja pelas tabelas Claro que ninguem se importa com minha aflicao Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela Eu achei que era ela puxando o cordao |
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10. |
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Sim, vai e diz
Diz assim Que eu chorei Que eu morri De arrependimento Que o meu desalento Ja nao tem mais fim Vai e diz Diz assim Como sou Infeliz No meu descaminho Diz que estou sozinho E sem saber de mim Diz que eu estive por pouco Diz a ela que estou louco Pra perdoar Que seja la como for Por amor Por favor E pra ela voltar Sim, vai e diz Diz assim Que eu rodei Que eu bebi Que eu cai Que eu nao sei Que eu so sei Que cansei, enfim Dos meus desencontros Corre e diz a ela Que eu entrego os pontos |
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11. |
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Nao e por estar na sua presenca
Meu prezado rapaz Mas voce vai mal Mas vai mal demais Sao dez horas, o samba ta quente Deixe a morena contente Deixe a menina sambar em paz Eu nao queria jogar confete Mas tenho que dizer Ce ta de lascar Ce ta de doer E se vai continuar enrustido Com essa cara de marido A moca e capaz de se aborrecer Por tras de um homem triste ha sempre uma mulher feliz E atras dessa mulher mil homens, sempre tao gentis Por isso para o seu bem Ou tire ela da cabeca ou mereca a moca que voce tem Nao sei se e para ficar exultante Meu querido rapaz Mas aqui ninguem o aguenta mais Sao tres horas, o samba ta quente Deixe a morena contente Deixe a menina sambar em paz Nao e por estar na sua presenca Meu prezado rapaz Mas voce vai mal Mas vai mal demais Sao seis horas o samba ta quente Deixe a morena com a gente Deixe a menina sambar em paz |
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12. |
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13. |
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14. |
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Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepipedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais Que aqui sangraram pelos nossos pes Que aqui sambaram nossos ancestrais Num tempo pagina infeliz da nossa historia Passagem desbotada na memoria Das nossas novas geracoes Dormia a nossa patria mae tao distraida Sem perceber que era subtraida Em tenebrosas transacoes Seus filhos erravam cegos pelo continente Levavam pedras feito penitentes Erguendo estranhas catedrais E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval O carnaval, o carnaval Vai passar, palmas pra ala dos baroes famintos O bloco dos napoleoes retintos E os pigmeus do boulevard Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar A evolucao da liberdade ate o dia clarear Ai que vida boa, o lere Ai que vida boa, o lara O estandarte do sanatorio geral vai passar Ai que vida boa, o lere Ai que vida boa, o lara |