Disc 1 | ||||||
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1. |
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Abre als pra minha folia
Ja esta chegando a hora Abre alas pra minha bandeira Ja esta chegando a hora Apare seus sonhos Que a vida tem dono Ela vem te cobrara A vida nao era assim nao ear assim Nao corra o risco De ficar alegre Pra nunca chorar A gente nao era assim nao era assim Encoste essa porta Que a nossa conversa Nao pode vazar A gente nao era assim nao era assim Bandeira arriada Folia guardada Pra nao se usar A festa nao era assim nao era assim |
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2. |
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Eu queria ser
Um tipo de compositor Capaz de cantar nosso amor Modesto Um tipo de amor Que e de mendigar cafune Que e pobre e as vezes nem e Honesto Pechincha de amor Mas que eu faco tanta questao Que se tiver precisao Eu furto Vem ca, meu amor Aguenta o teu cantador Me esquenta porque o cobertor e curto Mas levo esse amor Com o zelo de quem leva o andor Eu velo pelo meu amor Que sonha Que enfim, nosso amor Tambem pode ter seu valor Tambem e um tipo de flor Que nem outro tipo de flor Dum tipo que tem Que nao deve nada a ninguem Que da mais que maria-sem-vergonha Eu queria ser Um tipo de compositor Capaz de cantar nosso amor Barato Um tipo de amor Que e de esfarrapar e cerzir Que e de comer e cuspir No prato Mas levo esse amor Com zelo de quem leva o andor Eu velo pelo meu amor Que sonha Que enfim, nosso amor Tambem pode ter seu valor Tambem e um tipo de flor Que nem outro tipo de flor Dum tipo que tem Que nao deve nada a ninguem Que da mais que maria-sem-vergonha |
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3. |
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"Tutu-Maramba¡ na£o venha mais ca¡
Que a ma£e da criana§a te manda matar" "Tutu-Maramba¡ na£o venha mais ca¡ Que a ma£e da criana§a te manda matar" Ai, como essa moa§a e descuidada Com a janela escancarada Quer dormir impunemente Ou sera¡ que a moa§a la¡ no alto Na£o escuta o sobressalto Do coraa§a£o da gente Ai, quanto descuido o dessa moa§a Que papai ta¡ la¡ na roa§a E mama£e foi passear E todo marmanjo da cidade Quer entrar Nos versos da cantiga de ninar Pra ser um Tutu-Maramba¡ Ai, como essa moa§a e distraada Sabe la¡ se esta¡ vestida Ou se dorme transparente Ela sabe muito bem que quando adormece Esta¡ roubando O sono de outra gente Ai, quanta maldade a dessa moa§a E, que aqui ninguem nos oua§a Ela sabe enfeitia§ar Pois todo malandro da cidade Quer entrar Nos sonhos que ela gosta de sonhar E ser um Tutu-Maramba¡ "Boi, boi, boi, boi da cara preta Pega essa menina que tem medo de careta" |
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4. |
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Eis o malandro na praca outra vez
Caminhando na ponta dos pes Como quem pisa nos coracoes Que rolaram nos cabares Entre deusas e bofetoes Entre dados e coroneis Entre parangoles e patroes O malandro anda assim de vies Deixa balancar a mare E a poeira assentar no chao Deixa a praca virar um salao Que o malandro e o barao da rale |
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5. |
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Eu fui fazer um samba em homenagem
A nata da malandragem, que conheco de outros carnavais Eu fui a Lapa e perdi a viagem Que aquela tal malandragem nao existe mais Agora ja nao e normal, o que da de malandro Regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial Malandro candidato a malandro federal Malandro com retrato na coluna social Malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se da mal Mas o malandro para valer, nao espalha Aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal Dizem as mas linguas que ele ate trabalha Mora la longe chacoalha, no trem da central |
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9. |
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10. |
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(Chico Buarque, 1979)
Se voce cre em Deus Erga as mao para os deus E agradeca Quando me cobicou Sem querer acertou Na cabeca Eu sou sua alma gemea Sou sua femea Seu par, sua irma Eu sou seu incesto (seu jeito, seu gesto) Sou perfeita porque Igualzinha a voce Eu nao presto Eu nao presto Traicoeira e vulgar Sou sem nome e sem lar Sou aquela Eu sou filha da rua Eu sou cria da sua Costela Sou bandida Sou solta na vida E sob medida Pros carinhos seus Meu amigo Se ajeite comigo E de gracas a Deus Se voce cre em Deus Encaminhe pros ceus Uma prece E agraceca ao Senhor Voce tem o amor Que merece Andre Velloso, Rio de Janeiro, Brazil |
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11. |
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O meu amor
Tem um jeito manso que e so seu E que me deixa louca Quando me beija a boca A minha pele inteira fica arrepiada E me beija com calma e fundo Ate minh'alma se sentir beijada, ai O meu amor Tem um jeito manso que e so seu Que rouba os meus sentidos Viola os meus ouvidos Com tantos segredos lindos e indecentes Depois brinca comigo Ri do meu umbigo E me crava os dentes, ai Eu sou sua menina, viu? E ele e o meu rapaz Meu corpo e testemunha Do bem que ele me faz O meu amor Tem um jeito manso que e so seu De me deixar maluca Quando me roca a nuca E quase me machuca com a barba malfeita E de pousar as coxas entre as minhas coxas Quando ele se deita, ai O meu amor Tem um jeito manso que e so seu De me fazer rodeios De me beijar os seios Me beijar o ventre E me deixar em brasa Desfruta do meu corpo Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai Eu sou sua menina, viu? E ele e o meu rapaz Meu corpo e testemunha Do bem que ele me faz |
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13. |
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Disc 2 | ||||||
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Eu te vejo sumir por ai
Te avisei que a cidade era um vao Da tua mao, olha pra mim Nao faz assim, nao va la, nao Os letreiros a te colorir Embaracam a minha visao Eu te vi suspirar de aflicao E sair da sessao frouxa de rir Ja te vejo brincando gostando de ser Tua sombra a se multiplicar Nos teus olhos tambem posso ver As vitrines te vendo passar Na galeria, cada clarao E como um dia depois de outro dia Abrindo um salao Passas em exposicao Passas sem ver teu vigia Catando a poesia Que entornas no chao |
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2. |
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3. |
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Quando eu morrer, que me enterrem na
Beira do chapada£o -- contente com minha terra Cansado de tanta guerra Crescido de coraa§a£o Ta'o* Zanza daqui Zanza pra acola¡ Fim de feira, periferia afora A cidade na£o mora mais em mim Francisco, Serafim Vamos embora Ver o capim Ver o baoba¡ Vamos ver a campina quando flora A piracema, rios contravim Binho, Bel, Bia, Quim Vamos embora Quando eu morrer Cansado de guerra Morro de bem Com a minha terra: Cana, caqui Inhame, abobora Onde so vento se semeava outrora Amplida£o, naa§a£o, serta£o sem fim A" Manuel, Miguilim Vamos embora *apud Guimara£es Rosa |
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4. |
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5. |
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Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode as seis horas da manha Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortela Todo dia ela diz que e pra eu me cuidar E essas coisas que diz toda mulher Diz que esta me esperando pro jantar E me beija com a boca de cafe Todo dia eu so penso em poder parar Meio-dia eu so penso em dizer nao Depois penso na vida pra levar E me calo com a boca de feijao Seis da tarde, como era de se esperar, Ela pega e me espera no portao Diz que esta muito louca pra beijar E me beija com a boca de paixao Toda noite ela diz pra eu nao me afastar Meia-noite ela jura eterno amor E me aperta pra eu quase sufocar E me morde com a boca de pavor Todo dia ela faz tudo sempre igual Me sacode as seis horas da manha Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortela |
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6. |
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7. |
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8. |
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9. |
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10. |
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11. |
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12. |
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Nao se afobe, nao
Que nada e pra ja O amor nao tem pressa Ele pode esperar em silencio Num fundo de armario Na posta-restante Milenios, milenios No ar E quem sabe, entao O Rio sera Alguma cidade submersa Os escafandristas virao Explorar sua casa Seu quarto, suas coisas Sua alma, desvaos Sabios em vao Tentarao decifrar O eco de antigas palavras Fragmentos de cartas, poemas Mentiras, retratos Vestigios de estranha civilizacao Nao se afobe, nao Que nada e pra ja Amores serao sempre amaveis Futuros amantes, quica Se amarao sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra voce Andre Velloso - Rio de Janeiro, Brazil |
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13. |
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Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepipedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais Que aqui sangraram pelos nossos pes Que aqui sambaram nossos ancestrais Num tempo pagina infeliz da nossa historia Passagem desbotada na memoria Das nossas novas geracoes Dormia a nossa patria mae tao distraida Sem perceber que era subtraida Em tenebrosas transacoes Seus filhos erravam cegos pelo continente Levavam pedras feito penitentes Erguendo estranhas catedrais E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval O carnaval, o carnaval Vai passar, palmas pra ala dos baroes famintos O bloco dos napoleoes retintos E os pigmeus do boulevard Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar A evolucao da liberdade ate o dia clarear Ai que vida boa, o lere Ai que vida boa, o lara O estandarte do sanatorio geral vai passar Ai que vida boa, o lere Ai que vida boa, o lara |
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14. |
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