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from Acerto De Contas De Paulo Vanzolini [tribute] (2004) | |||||
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from Chico Buarque - Chico Buarque/E.Lobo - Cambaio (2001)
Eu quero moa§a que me deixe perdido
Procuro moa§a que me deixe pasmado Essa moa§a zoando na minha ideia Eu quero moa§a que me deixe zarolho Procuro moa§a que me deixe cambaio Me fervendo na veia Desejo a moa§a prestes A transformar-se em flor A se tornar um luxo Pro seu novo amor Moa§a que vira bicho Que e de fechar bordel Que ateia fogo a?s vestes Na lua-de-mel Eu quero moa§a que me deixe maluco Moa§a disposta a me deixar no bagaa§o Essa moa§a zanzando na minha raia Eu quero moa§a que me chame na chincha Com sua flecha que me crave um buraco Na cabea§a e na£o saia Que na£o abaixe a fronte Que vai por onde quer Que segue pelo cheiro Quero essa mulher Que e de rasgar dinheiro Marido detonar Se arremessar da ponte E me carregar Vejo fulana a festejar na revista Vejo beltrana a bordejar no pedaa§o Divinais garotas Belas donzelas no sala£o de beleza Altas gazelas nos jardins do pala¡cio Eu sou mais as putas |
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from Chico Buarque - Chico Buarque/E.Lobo - Cambaio (2001)
Rato de rua
Irrequieta criatura Tribo em frenetica proliferacao Lubrico, libidinoso transeunte Boca de estomago Atras do seu quinhao Vao aos magotes A dar com um pau Levando o terror Do parking ao living Do shopping center ao leu Do cano de esgoto Pro topo do arranha-ceu Rato de rua Aborigene do lodo Fuca gelada Couraca de sabao Quase risonho Profanador de tumba Sobrevivente A chacina e a lei do cao Saqueador da metropole Tenaz roedor De toda esperanca Estuporador da ilusao O meu semelhante Filho de Deus, meu irmao Rato Rato que roi a roupa Que roi a rapa do rei do morro Que roi a roda do carro Que roi o carro, que roi o ferro Que roi o barro, roi o morro Rato que roi o rato Ra-rato, ra-rato Roto que ri do roto Que roi o farrapo Do esfarra-rapado Que mete a ripa, arranca rabo Rato ruim Rato que roi a rosa Roi o riso da moca E ruma rua arriba Em sua rota de rato Saqueador da metropole Tenaz roedor De toda esperanca Estuporador da ilusao O meu semelhante Filho de Deus, meu irmao |
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from Chico Buarque - Chico Buarque/E.Morricone - Per Un Pugno Di Samba(Digi-Pack/Remastered) (1970) | |||||
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from Chico Buarque - Chico Buarque/E.Morricone - Per Un Pugno Di Samba(Digi-Pack/Remastered) (1970)
Eu faco samba e amor ate mais tarde
E tenho muito sono de manha Escuto a correria da cidade que arde E apressa o dia de amanha De madrugada a gente 'inda se ama E a fabrica comeca a buzinar O transito contorna, a nossa cama reclama Do nosso eterno espreguicar No colo da bem vinda companheira No corpo do bendito violao Eu faco samba e amor a noite inteira Nao tenho a quem prestar satisfacao Eu faco samba e amor ate mais tarde E tenho muito mais o que fazer Escuto a correria da cidade. Que alarde! Sera que e tao dificil amanhecer? Nao sei se preguicoso ou se covarde Debaixo do meu cobertor de la Eu faco samba e amor ate mais tarde E tenho muito sono de manha |
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from Chico Buarque - Chico Buarque/E.Morricone - Per Un Pugno Di Samba(Digi-Pack/Remastered) (1970) | |||||
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from Chico Buarque - Chico Buarque/E.Morricone - Per Un Pugno Di Samba(Digi-Pack/Remastered) (1970)
Onde andara Nicanor?
Tinha maos de jardineiro Quando tratava de amor Ha tanta moca na espera Suas gentis primaveras Um desperdicio de flor Onde andara Nicanor? Tinha amor pro porto inteiro Um peito de remador Ah, quem me dera as morenas Pra consolar suas penas Para abrandar seucalor Olha elas sempre aflitas Bata o vento ou caia chuva Cada uma mais bonita E mais viuva Todas elas fazem ninho Da saudade e da virtude Mas carinho Queira Deus que Deus ajude Onde andara Nicanor? Tinha no de marinheiro Quando amarrava um amor Mas ha recantos guardados Nos sete mares rasgados Sete pecados tao bons Onde andara Nicanor? |
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from Chico Buarque - Chico Buarque/E.Morricone - Per Un Pugno Di Samba(Digi-Pack/Remastered) (1970) | |||||
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
(Chico Buarque, 1977)
Mulher Voce vai gostar To levando uns amigos pra conversar Eles vao com uma fome que nem me contem Eles vao com uma sede de anteontem Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhao E vamos botar agua no feijao Mulher Nao va se afobar Nao tem que por a mesa, nem da lugar Ponha os pratos no chao, e o chao ta posto E prepare as linguicas pro tiragosto Uca, acucar, cumbuca de gelo, limao E vamos botar agua no feijao Mulher Voce vai fritar Um montao de torresmo pra acompanhar Arroz branco, farofa e a malagueta A laranja-bahia ou da seleta Joga o paio, carne seca, toucinho no caldeirao E vamos botar agua no feijao Mulher Depois de salgar Faca um bom refogado, que e pra engrossar Aproveite a gordura da frigideira Pra melhor temperar a couve mineira Diz que ta dura, pendura a fatura no nosso irmao E vamos botar agua no feijao Andre Velloso - Rio de Janeiro, Brazil |
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora Sonhei que tinha gente la fora Batendo no portao, que aflicao Era a dura, numa muito escura viatura Minha nossa santa criatura Chame, chame, chame la Chame, chame o ladrao, chame o ladrao Acorda amor Nao e mais pesadelo nada Tem gente ja no vao de escada Fazendo confusao, que aflicao Sao os homens E eu aqui parado de pijama Eu nao gosto de passar vexame Chame, chame, chame Chame o ladrao, chame o ladrao Se eu demorar uns meses Convem, as vezes, voce sofrer Mas depois de um ano eu nao vindo Ponha a roupa de domingo E pode me esquecer Acorda amor Que o bicho e brabo e nao sossega Se voce corre o bicho pega Se fica nao sei nao Atencao Nao demora Dia desses chega a sua hora Nao discuta a toa nao reclame Clame, chame la, chame, chame Chame o ladrao, chame o ladrao, chame o ladrao (Nao esqueca a escova, o sabonete e o violao) |
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
Vai meu irmao
Pega esse aviao Voce tem razao De correr assim Desse frio Mas beija O meu Rio de Janeiro Antes que um aventureiro Lance mao Pede perdao Pela duracao Dessa temporada Mas nao diga nada Que me viu chorando E pros da pesada Diz que eu vou levando Ve como e que anda Aquela vida a toa E se puder me manda Uma noticia boa |
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
Quando, seu moco, nasceu meu rebento
Nao era o momento dele rebentar Ja foi nascendo com cara de fome E eu nao tinha nem nome pra lhe dar Como fui levando, nao sei lhe explicar Fui assim levando ele a me levar E na sua meninice ele um dia me disse Que chegava la Olha ai Olha ai Olha ai, ai o meu guri, olha ai Olha ai, e o meu guri E ele chega Chega suado e veloz do batente E traz sempre um presente pra me encabular Tanta corrente de ouro, seu moco Que haja pescoco pra enfiar Me trouxe uma bolsa ja com tudo dentro Chave, caderneta, terco e patua Um lenco e uma penca de documentos Pra finalmente eu me identificar, olha ai Olha ai, ai o meu guri, olha ai Olha ai, e o meu guri E ele chega Chega no morro com o carregamento Pulseira, cimento, relogio, pneu, gravador Rezo ate ele chegar ca no alto Essa onda de assaltos ta um horror Eu consolo ele, ele me consola Boto ele no colo pra ele me ninar De repente acordo, olho pro lado E o danado ja foi trabalhar, olha ai Olha ai, ai o meu guri, olha ai Olha ai, e o meu guri E ele chega Chega estampado, manchete, retrato Com venda nos olhos, legenda e as iniciais Eu nao entendo essa gente, seu moco Fazendo alvoroco demais O guri no mato, acho que ta rindo Acho que ta lindo de papo pro ar Desde o comeco, eu nao disse, seu moco Ele disse que chegava la Olha ai, olha ai Olha ai, ai o meu guri, olha ai Olha ai, e o meu guri |
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
Tinha ca pra mim
Que agora sim Eu vivia enfim O grande amor Mentira Me atirei assim De trampolim Fui ate o fim um amador Passava um verao A agua e pao Dava o meu quinhao Pro grande amor Mentira Eu botava a mao No fogo entao Com meu coracao de fiador Hoje eu tenho apenas Uma pedra no meu peito Exijo respeito Nao sou mais um sonhador Chego a mudar de calcada Quando aparece uma flor E dou risada do grande amor Mentira Fui muito fiel Comprei anel Botei no papel O grande amor Mentira Reservei hotel Sarapatel E lua de mel Em Salvador Fui rezar na Se Pra Sao Jose Que eu levava fe No grande amor Mentira Fiz promessa ate Pra Oxumare De subir a pe o Redentor Hoje eu tenho apenas Uma pedra no meu peito Exijo respeito Nao sou mais um sonhador Chego a mudar de calcada Quando aparece uma flor E dou risada do grande amor Mentira |
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
Eu fui fazer um samba em homenagem
A nata da malandragem, que conheco de outros carnavais Eu fui a Lapa e perdi a viagem Que aquela tal malandragem nao existe mais Agora ja nao e normal, o que da de malandro Regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial Malandro candidato a malandro federal Malandro com retrato na coluna social Malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se da mal Mas o malandro para valer, nao espalha Aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal Dizem as mas linguas que ele ate trabalha Mora la longe chacoalha, no trem da central |
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu nao lhe faco uma visita Mas como agora apareceu um portador Mando noticias nessa fita Aqui na terra 'tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta Muita mutreta pra levar a situacao Que a gente vai levando de teimoso e de pirraca E a gente vai tomando que, tambem, sem a cachaca Ninguem segura esse rojao Meu caro amigo eu nao pretendo provocar Nem aticar suas saudades Mas acontece que nao posso me furtar A lhe contar as novidades Aqui na terra tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta E pirueta pra cavar o ganha-pao Que a gente vai cavando so de birra, so de sarro E a gente vai fumando que, tambem, sem um cigarro Ninguem segura esse rojao Meu caro amigo eu quis ate telefonar Mas a tarifa nao tem graca Eu ando aflito pra fazer voce ficar A par de tudo que se passa Aqui na terra 'tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta Muita careta pra engolir a transacao E a gente ta engolindo cada sapo no caminho E a gente vai se amando que, tambem, sem um carinho Ninguem segura esse rojao Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever Mas o correio andou arisco Se permitem, vou tentar lhe remeter Noticias frescas nesse disco Aqui na terra 'tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta A Marieta manda um beijo para os seus Um beijo na familia, na Cecilia e nas criancas O Francis aproveita pra tambem mandar lembrancas A todo o pessoal Adeus |
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode as seis horas da manha Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortela Todo dia ela diz que e pra eu me cuidar E essas coisas que diz toda mulher Diz que esta me esperando pro jantar E me beija com a boca de cafe Todo dia eu so penso em poder parar Meio-dia eu so penso em dizer nao Depois penso na vida pra levar E me calo com a boca de feijao Seis da tarde, como era de se esperar, Ela pega e me espera no portao Diz que esta muito louca pra beijar E me beija com a boca de paixao Toda noite ela diz pra eu nao me afastar Meia-noite ela jura eterno amor E me aperta pra eu quase sufocar E me morde com a boca de pavor Todo dia ela faz tudo sempre igual Me sacode as seis horas da manha Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortela |
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
Ando com minha cabeca ja pelas tabelas
Claro que ninguem se importa com minha aflicao Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela Eu achei que era ela puxando o cordao Oito horas e danco de blusa amarela Minha cabeca talvez faca as pazes assim Quando ouvi a cidade de noite batendo as panelas Eu pensei que era ela voltando pra mim Minha cabeca de noite batendo panelas Provavelmente nao deixa a cidade dormir Quando vi um bocado de gente Descendo as favelas Eu achei que era o povo que vinha pedir A cabeca de um homem que olhava as favelas Minha cabeca rolando no maracana Quando vi a galera aplaudindo de pe as tabelas Eu jurei que era ela que vinha chegando Com minha cabeca ja pelas tabelas Claro que ninguem se importa com minha aflicao Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela Eu achei que era ela puxando o cordao |
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
Sim, vai e diz
Diz assim Que eu chorei Que eu morri De arrependimento Que o meu desalento Ja nao tem mais fim Vai e diz Diz assim Como sou Infeliz No meu descaminho Diz que estou sozinho E sem saber de mim Diz que eu estive por pouco Diz a ela que estou louco Pra perdoar Que seja la como for Por amor Por favor E pra ela voltar Sim, vai e diz Diz assim Que eu rodei Que eu bebi Que eu cai Que eu nao sei Que eu so sei Que cansei, enfim Dos meus desencontros Corre e diz a ela Que eu entrego os pontos |
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
Nao e por estar na sua presenca
Meu prezado rapaz Mas voce vai mal Mas vai mal demais Sao dez horas, o samba ta quente Deixe a morena contente Deixe a menina sambar em paz Eu nao queria jogar confete Mas tenho que dizer Ce ta de lascar Ce ta de doer E se vai continuar enrustido Com essa cara de marido A moca e capaz de se aborrecer Por tras de um homem triste ha sempre uma mulher feliz E atras dessa mulher mil homens, sempre tao gentis Por isso para o seu bem Ou tire ela da cabeca ou mereca a moca que voce tem Nao sei se e para ficar exultante Meu querido rapaz Mas aqui ninguem o aguenta mais Sao tres horas, o samba ta quente Deixe a morena contente Deixe a menina sambar em paz Nao e por estar na sua presenca Meu prezado rapaz Mas voce vai mal Mas vai mal demais Sao seis horas o samba ta quente Deixe a morena com a gente Deixe a menina sambar em paz |
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from Chico Buarque - O Sambista (2003) | |||||
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from Chico Buarque - O Sambista (2003) | |||||
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from Chico Buarque - O Sambista (2003)
Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepipedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais Que aqui sangraram pelos nossos pes Que aqui sambaram nossos ancestrais Num tempo pagina infeliz da nossa historia Passagem desbotada na memoria Das nossas novas geracoes Dormia a nossa patria mae tao distraida Sem perceber que era subtraida Em tenebrosas transacoes Seus filhos erravam cegos pelo continente Levavam pedras feito penitentes Erguendo estranhas catedrais E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval O carnaval, o carnaval Vai passar, palmas pra ala dos baroes famintos O bloco dos napoleoes retintos E os pigmeus do boulevard Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar A evolucao da liberdade ate o dia clarear Ai que vida boa, o lere Ai que vida boa, o lara O estandarte do sanatorio geral vai passar Ai que vida boa, o lere Ai que vida boa, o lara |
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from Chico Buarque - Carioca (2007) | |||||
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from Chico Buarque - Carioca (2007) | |||||
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from Chico Buarque - Carioca (2007)
Rato de rua
Irrequieta criatura Tribo em frenetica proliferacao Lubrico, libidinoso transeunte Boca de estomago Atras do seu quinhao Vao aos magotes A dar com um pau Levando o terror Do parking ao living Do shopping center ao leu Do cano de esgoto Pro topo do arranha-ceu Rato de rua Aborigene do lodo Fuca gelada Couraca de sabao Quase risonho Profanador de tumba Sobrevivente A chacina e a lei do cao Saqueador da metropole Tenaz roedor De toda esperanca Estuporador da ilusao O meu semelhante Filho de Deus, meu irmao Rato Rato que roi a roupa Que roi a rapa do rei do morro Que roi a roda do carro Que roi o carro, que roi o ferro Que roi o barro, roi o morro Rato que roi o rato Ra-rato, ra-rato Roto que ri do roto Que roi o farrapo Do esfarra-rapado Que mete a ripa, arranca rabo Rato ruim Rato que roi a rosa Roi o riso da moca E ruma rua arriba Em sua rota de rato Saqueador da metropole Tenaz roedor De toda esperanca Estuporador da ilusao O meu semelhante Filho de Deus, meu irmao |
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from Chico Buarque - Carioca (2007)
Perdida
Na avenida Canta seu enredo Fora do carnaval Perdeu a saia Perdeu o emprego Desfila natural Esquinas Mil buzinas Imagina orquestras Samba no chafariz Viva a folia A dor nao presta Felicidade, sim O sol ensolara a estrada dela A lua alumiara o mar A vida e bela O sol, estrada amarela E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas Bambeia Cambaleia E dura na queda Custa a cair em si Largou a familia Bebeu veneno E vai morrer de rir Vagueia Devaneia Ja apanhou a beca Mas para quem sabe olhar A flor tambem e Ferida aberta E nao se ve chorar O sol ensolara a estrada dela A lua alumiara o mar A vida e bela O sol, estrada amarela E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas |
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from Chico Buarque - Carioca (2007) | |||||
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from Chico Buarque - Carioca (2007)
Naturalmente
ela sorria Mas nao me dava trela Trocava a roupa Na minha frente E ia bailar sem mais aquela Escolhia qualquer um Lancava olhares Debaixo do meu nariz Dancava colada Em novos pares Com um pe atras Com um pe a fim Surgiram outras Naturalmente Sem nem olhar a minha cara Tomavam banho Na minha frente Para sair com outro cara Porem nunca me importei Com tais amantes Os meus olhos infantis So cuidavam delas Corpos errantes Peitinhos assaz Bundinhas assim Com tantos filmes Na minha mente E natural que toda atriz Presentemente represente Muito para mim |
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from Chico Buarque - Carioca (2007)
Quando ela chora
Nao sei se e dos olhos para fora Nao sei do que ri Eu nao sei se ela agora Esta fora de si Ou se e o estilo de uma grande dama Quando me encara e desata os cabelos Nao sei se ela esta mesmo aqui Quando se joga na minha cama Ela faz cinema Ela faz cinema Ela e a tal Sei que ela pode ser mil Mas nao existe outra igual Quando ela mente Nao sei se ela deveras sente O que mente para mim Serei eu meramente Mais um personagem efemero Da sua trama Quando vestida de preto Da-me um beijo seco Prevejo meu fim E a cada vez que o perdao Me clama Ela faz cinema Ela faz cinema Ela e demais Talvez nem me queira bem Porem faz um bem que ninguem Me faz Eu nao sei Se ela sabe o que fez Quando fez o meu peito Cantar outra vez Quando ela jura Nao sei por que Deus ela jura Que tem coracao e quando o meu coracao Se inflama Ela faz cinema Ela faz cinema Ela e assim Nunca sera de ninguem Porem eu nao sei viver sem E fim |
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from Chico Buarque - Carioca (2007) | |||||
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from Chico Buarque - Carioca (2007)
Nao me leve a mal
Me leve a toa pela ultima vez A um quiosque, ao planetario Ao cais do porto, ao paco O meu coracao, meu coracao Meu coracao parece Que perde um pedaco, mas nao Me leve a serio Passou este verao Outros passarao Eu passo Nao se atire do terraco Nao arranque minha cabeca Da sua cortica Nao beba muita cachaca Nao se esqueca depressa de mim, sim? Pense que eu cheguei de leve Machuquei voce de leve E me retirei com pes de la Sei que o seu caminho amanha Sera um caminho bom Mas nao me leve Nao me leve a mal Me leve apenas para andar por ai Na lagoa, no cemiterio Na areia, no mormaco O meu coracao, meu coracao Meu coracao parece Que perde um pedaco, mas nao Me leve a serio Passou este verao Outros passarao Eu passo Nao se atire do terraco Nao arranque minha cabeca Da sua cortica Nao beba muita cachaca Nao se esqueca depressa de mim, sim? Pense que eu cheguei de leve Machuquei voce de leve E me retirei com pes de la Sei que o seu caminho amanha Sera tudo de bom Mas nao me leve O meu coracao parece Que perde um pedaco, mas nao Me leve a serio Passou este verao Outros passarao Eu passo |
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from Chico Buarque - Carioca (2007)
Sempre
Eu te contemplava sempre Te mirei de mil mirantes Mesmo em sonho estive atento Para poder lembrar-te sempre Como olhando o firmamento E as estrelas cintilantes Que se foram para sempre No teu corpo em movimento Os teus labios em flagrante O teu riso, o teu silencio Serao meus ainda e sempre Dura a vida alguns instantes Porem mais do que o bastante Quando em cada instante e sempre |
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from Chico Buarque - Carioca (2007)
Imagina
Imagina Hoje a noite A gente se peder Imagina Imagina Hoje a noite A lua se apagar Quem ja viu a lua cris Quando a lua comeca a murchar Lua cris E preciso gritar e correr, socorrer o luar Meu amor Abre a porta pra noite passar E olha o sol Da manha Olha a chuva Olha a chuva, olha o sol, olha o dia a lancar Serpentinas Serpentinas pelo ceu Sete fitas Coloridas Sete vias Sete vidas Avenidas Pra qualquer lugar Imagina Imagina Sabe que o menino que passar debaixo do arco-iris vira moca Vira a menina que cruzar de volta o arco-iris rapidinho vira volta a ser rapaz A menina que passou no arco era o menino que passou no arco E vai virar menina Imagina Imagina Imagina Imagina Imagina Hoje a noite A gente se perder Imagina Imagina Hoje a noite A lua se apagar |
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from Chico Buarque - Carioca (2007) | |||||
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from Caetano Veloso, Chico Buarque - Juntos E Ao Vivo (2000) | |||||
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from Caetano Veloso, Chico Buarque - Juntos E Ao Vivo (2000) | |||||
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from Caetano Veloso, Chico Buarque - Juntos E Ao Vivo (2000) | |||||
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from Caetano Veloso, Chico Buarque - Juntos E Ao Vivo (2000) | |||||
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from Caetano Veloso, Chico Buarque - Juntos E Ao Vivo (2000) | |||||
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from Caetano Veloso, Chico Buarque - Juntos E Ao Vivo (2000) | |||||
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from Caetano Veloso, Chico Buarque - Juntos E Ao Vivo (2000) | |||||
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from Caetano Veloso, Chico Buarque - Juntos E Ao Vivo (2000) | |||||
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from Caetano Veloso, Chico Buarque - Juntos E Ao Vivo (2000) | |||||
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from Caetano Veloso, Chico Buarque - Juntos E Ao Vivo (2000) | |||||
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from Caetano Veloso, Chico Buarque - Juntos E Ao Vivo (2000) | |||||
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from Chico Buarque - Construcao (2000)
Por esse pao pra comer, por esse chao pra dormir
A certidao pra nascer e a concessao pra sorrir Por me deixar respirar, por me deixar existir Deus lhe pague Pelo prazer de chorar e pelo "estamos ai" Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir Um crime pra comentar e um samba pra distrair Deus lhe pague Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir Pelo domingo que e lindo, novela, missa e gibi Deus lhe pague Pela cachaca de graca que a gente tem que engolir Pela fumaca, desgraca, que a gente tem que tossir Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair Deus lhe pague Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir E pelo grito demente que nos ajuda a fugir Deus lhe pague Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir Deus lhe pague |
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from Chico Buarque - Construcao (2000)
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode as seis horas da manha Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortela Todo dia ela diz que e pra eu me cuidar E essas coisas que diz toda mulher Diz que esta me esperando pro jantar E me beija com a boca de cafe Todo dia eu so penso em poder parar Meio-dia eu so penso em dizer nao Depois penso na vida pra levar E me calo com a boca de feijao Seis da tarde, como era de se esperar, Ela pega e me espera no portao Diz que esta muito louca pra beijar E me beija com a boca de paixao Toda noite ela diz pra eu nao me afastar Meia-noite ela jura eterno amor E me aperta pra eu quase sufocar E me morde com a boca de pavor Todo dia ela faz tudo sempre igual Me sacode as seis horas da manha Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortela |
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from Chico Buarque - Construcao (2000)
Sim, vai e diz
Diz assim Que eu chorei Que eu morri De arrependimento Que o meu desalento Ja nao tem mais fim Vai e diz Diz assim Como sou Infeliz No meu descaminho Diz que estou sozinho E sem saber de mim Diz que eu estive por pouco Diz a ela que estou louco Pra perdoar Que seja la como for Por amor Por favor E pra ela voltar Sim, vai e diz Diz assim Que eu rodei Que eu bebi Que eu cai Que eu nao sei Que eu so sei Que cansei, enfim Dos meus desencontros Corre e diz a ela Que eu entrego os pontos |
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from Chico Buarque - Construcao (2000) | |||||
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from Chico Buarque - Construcao (2000) | |||||
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from Chico Buarque - Construcao (2000)
Olha Maria
Eu bem te queria Fazer uma presa Da minha poesia Mas hoje, Maria Pra minha surpresa Pra minha tristeza Precisas partir Parte, Maria Que estas tao bonita Que estas tao aflita Pra me abandonar Sinto, Maria Que estas de visita Teu corpo se agita Querendo dancar Parte, Maria Que estas toda nua Que a lua te chama Que estas tao mulher Arde, Maria Na chama da lua Maria cigana Maria mare Parte cantando Maria fugindo Contra a ventania Brincando, dormindo Num colo de serra Num campo vazio Num leito de rio Nos bracos do mar Vai, alegria Que a vida, Maria Nao passa de um dia Nao vou te prender Corre, Maria Que a vida nao espera E uma primavera Nao podes perder Anda, Maria Pois eu so teria A minha agonia Pra te oferecer |
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from Chico Buarque - Construcao (2000)
Vai meu irmao
Pega esse aviao Voce tem razao De correr assim Desse frio Mas beija O meu Rio de Janeiro Antes que um aventureiro Lance mao Pede perdao Pela duracao Dessa temporada Mas nao diga nada Que me viu chorando E pros da pesada Diz que eu vou levando Ve como e que anda Aquela vida a toa E se puder me manda Uma noticia boa |
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Dorme minha pequena
Nao vale a pena despertar Eu vou sair Por ai afora Atras da aurora Mais serena |
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from Chico Buarque - Meus Caros Amigos (2000) | |||||
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(Chico Buarque - Augusto Boal, 1976)
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas Vivem pros seu maridos, orgulho e raca de Atenas Quando amadas, se perfumam Se banham com leite, se arrumam Suas melenas Quando fustigadas nao choram Se ajoelham, pedem, imploram Mais duras penas Cadenas Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas Sofrem pros seus maridos, poder e forca de Atenas Quando eles embarcam, soldados Elas tecem longos bordados Mil quarentenas E quando eles voltam sedentos Querem arrancar violentos Caricias plenas Obscenas Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas Quando eles se entopem de vinho Costumam buscar o carinho De outras falenas Mas no fim da noite, aos pedacos Quase sempre voltam pros bracos De suas pequenas Helenas Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas Elas nao tem gosto ou vontade Nem defeito nem qualidade Tem medo apenas Nao tem sonhos, so tem pressagios O seu homem, mares, naufragios Lindas sirenas Morenas Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas Temem por seus maridos, herois e amantes de Atenas As jovens viuvas marcadas E as gestantes abandonadas Nao fazem cenas Vestem-se de negro, se encolhem Se conformam e se recolhem As suas novenas Serenas Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas Secam por seus maridos, orgulho e raca de Atenas Andre Velloso - Rio de Janeiro, Brazil |
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from Chico Buarque - Meus Caros Amigos (2000)
Quando voce me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem Quis morrer de ciume, quase enlouqueci Mas depois, como era de costume, obedeci Quando voce me quiser rever Ja vai me encontrar refeita, pode crer Olhos no olhos, quero ver o que voce faz Ao sentir que sem voce eu passo bem demais E que venho ate remocando Me pego cantando Sem mais nem porque E tantas aguas rolaram Quantos homens me amaram Bem mais e melhor que voce Quando talvez precisar de mim 'Ce sabe a casa e sempre sua, venha sim Olhos nos olhos, quero ver o que voce diz Quero ver como suporta me ver tao feliz |
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Ei, pintassilgo
Oi, pintaroxo Melro, uirapuru Ai, chega-e-vira Engole-vento Saira, inhambu Foge asa-branca Vai, patativa Tordo, tuju, tuim Xo, tie-sangue Xo, tie-fogo Xo, rouxinol sem fim Some, coleiro Anda, trigueiro Te esconde colibri Voa, macuco Voa, viuva Utiariti Bico calado Toma cuidado Que o homem vem ai O homem vem ai O homem vem ai Ei, quero-quero Oi, tico-tico Anum, pardal, chapim Xo, cotovia Xo, ave-fria Xo, pescador-martim Some, rolinha Anda, andorinha Te esconde, bem-te-vi Voa, bicudo Voa, sanhaco Vai, juriti Bico calado Muito cuidado Que o homem vem ai O homem vem ai O homem vem ai |
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from Chico Buarque - Meus Caros Amigos (2000)
Pra mim
Basta um dia Nao mais que um dia Um meio dia Me da So um dia E eu faco desatar A minha fantasia So um Belo dia Pois se jura, se esconjura Se ama e se tortura Se tritura, se atura e se cura A dor Na orgia Da luz do dia E so O que eu pedia Um dia pra aplacar Minha agonia Toda a sangria Todo o veneno De um pequeno dia So um Santo dia Pois se beija, se maltrata Se come e se mata Se arremata, se acata e se trata A dor Na orgia Da luz do dia E so O que eu pedia, viu Um dia pra aplacar Minha agonia Toda a sangria Todo o veneno De um pequeno dia |
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Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu nao lhe faco uma visita Mas como agora apareceu um portador Mando noticias nessa fita Aqui na terra 'tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta Muita mutreta pra levar a situacao Que a gente vai levando de teimoso e de pirraca E a gente vai tomando que, tambem, sem a cachaca Ninguem segura esse rojao Meu caro amigo eu nao pretendo provocar Nem aticar suas saudades Mas acontece que nao posso me furtar A lhe contar as novidades Aqui na terra tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta E pirueta pra cavar o ganha-pao Que a gente vai cavando so de birra, so de sarro E a gente vai fumando que, tambem, sem um cigarro Ninguem segura esse rojao Meu caro amigo eu quis ate telefonar Mas a tarifa nao tem graca Eu ando aflito pra fazer voce ficar A par de tudo que se passa Aqui na terra 'tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta Muita careta pra engolir a transacao E a gente ta engolindo cada sapo no caminho E a gente vai se amando que, tambem, sem um carinho Ninguem segura esse rojao Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever Mas o correio andou arisco Se permitem, vou tentar lhe remeter Noticias frescas nesse disco Aqui na terra 'tao jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero e lhe dizer que a coisa aqui ta preta A Marieta manda um beijo para os seus Um beijo na familia, na Cecilia e nas criancas O Francis aproveita pra tambem mandar lembrancas A todo o pessoal Adeus |
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A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela Meu assunto Levou junto com ela E o que me e de direito Arrancou-me do peito E tem mais Levou seu retrato, seu trapo, seu prato Que papel! Uma imagem de Sao Francisco E um bom disco de Noel A Rita matou nosso amor De vinganca Nem heranca deixou Nao levou um tostao Porque nao tinha nao Mas causou perdas e danos Levou os meus planos Meu pobres enganos Os meus vinte anos O meu coracao E alem de tudo Me deixou mudo Um violao |
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Tinha ca pra mim
Que agora sim Eu vivia enfim O grande amor Mentira Me atirei assim De trampolim Fui ate o fim um amador Passava um verao A agua e pao Dava o meu quinhao Pro grande amor Mentira Eu botava a mao No fogo entao Com meu coracao de fiador Hoje eu tenho apenas Uma pedra no meu peito Exijo respeito Nao sou mais um sonhador Chego a mudar de calcada Quando aparece uma flor E dou risada do grande amor Mentira Fui muito fiel Comprei anel Botei no papel O grande amor Mentira Reservei hotel Sarapatel E lua de mel Em Salvador Fui rezar na Se Pra Sao Jose Que eu levava fe No grande amor Mentira Fiz promessa ate Pra Oxumare De subir a pe o Redentor Hoje eu tenho apenas Uma pedra no meu peito Exijo respeito Nao sou mais um sonhador Chego a mudar de calcada Quando aparece uma flor E dou risada do grande amor Mentira |
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Eu te vejo sumir por ai
Te avisei que a cidade era um vao Da tua mao, olha pra mim Nao faz assim, nao va la, nao Os letreiros a te colorir Embaracam a minha visao Eu te vi suspirar de aflicao E sair da sessao frouxa de rir Ja te vejo brincando gostando de ser Tua sombra a se multiplicar Nos teus olhos tambem posso ver As vitrines te vendo passar Na galeria, cada clarao E como um dia depois de outro dia Abrindo um salao Passas em exposicao Passas sem ver teu vigia Catando a poesia Que entornas no chao |
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Eis o malandro na praca outra vez
Caminhando na ponta dos pes Como quem pisa nos coracoes Que rolaram nos cabares Entre deusas e bofetoes Entre dados e coroneis Entre parangoles e patroes O malandro anda assim de vies Deixa balancar a mare E a poeira assentar no chao Deixa a praca virar um salao Que o malandro e o barao da rale |
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Preciso nao dormir
Ate se consumar O tempo Da gente Preciso conduzir Um tempo de te amar Te amando devagar E urgentemente Pretendo descobrir No ultimo momento Um tempo que refaz o que desfez Que recolhe todo o sentimento E bota no corpo uma outra vez Prometo te querer Ate o amor cair Doente Doente Prefiro entao partir A tempo de poder A gente se desvencilhar da gente Depois de te perder Te encontro, com certeza Talvez num tempo da delicadeza Onde nao diremos nada Nada aconteceu Apenas seguirei, como encantado Ao lado teu Andre Velloso - Rio de Janeiro, Brazil |
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A novidade
Que tem no Brejo da Cruz E a criancada Se alimentar de luz Alucinados Meninos ficando azuis E desencarnando La no Brejo da Cruz Eletrizados Cruzam os ceus do Brasil Na rodoviaria Assumem formas mil Uns vendem fumo Tem uns que viram Jesus Muito sanfoneiro Cego tocando blues Uns tem saudade E dancam maracatus Uns atiram pedra Outros passeiam nus Mas ha milhoes desses seres Que se disfarcam tao bem Que ninguem pergunta De onde essa gente vem Sao jardineiros Guardas-noturnos, casais Sao passageiros Bombeiros e babas Ja nem se lembram Que existe um Brejo da Cruz Que eram criancas E que comiam luz Sao faxineiros Balancam nas construcoes Sao bilheteiras Baleiros e garcons Ja nem se lembram Que existe um Brejo da Cruz Que eram criancas E que comiam luz |
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from Chico Buarque - Ao Vivo/ Paris/ Le Zenith (2004)
Vai passar nessa avenida um samba popular
Cada paralelepipedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais Que aqui sangraram pelos nossos pes Que aqui sambaram nossos ancestrais Num tempo pagina infeliz da nossa historia Passagem desbotada na memoria Das nossas novas geracoes Dormia a nossa patria mae tao distraida Sem perceber que era subtraida Em tenebrosas transacoes Seus filhos erravam cegos pelo continente Levavam pedras feito penitentes Erguendo estranhas catedrais E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval O carnaval, o carnaval Vai passar, palmas pra ala dos baroes famintos O bloco dos napoleoes retintos E os pigmeus do boulevard Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar A evolucao da liberdade ate o dia clarear Ai que vida boa, o lere Ai que vida boa, o lara O estandarte do sanatorio geral vai passar Ai que vida boa, o lere Ai que vida boa, o lara |
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from Chico Buarque - Ao Vivo/ Paris/ Le Zenith (2004)
Vai meu irmao
Pega esse aviao Voce tem razao De correr assim Desse frio Mas beija O meu Rio de Janeiro Antes que um aventureiro Lance mao Pede perdao Pela duracao Dessa temporada Mas nao diga nada Que me viu chorando E pros da pesada Diz que eu vou levando Ve como e que anda Aquela vida a toa E se puder me manda Uma noticia boa |